quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Camisas de 1998

Quando começou 1998, ano em que o Vasco comemoraria o centenário da sua fundação, havia uma grande expectativa em relação ao desempenho esportivo do clube, tanto por parte de sua torcida, como das torcidas adversárias. Ainda estava bem fresco na memória dos torcedores cariocas o que havia se passado com um certo clube três anos antes, quando o seu presidente havia prometido "ganhar tudo no centenário". Como se sabe, o que acabou sucedendo foi um total fracasso. Em vez do "ano do centenário", o clube do presidente fanfarrão teve que se contentar com o "ano do sem-ter-nada". Obviamente, o Vasco não queria passar pelo mesmo vexame, e dedicou-se de corpo e alma a estruturar-se para o sucesso, não só no futebol, como em todos os esportes.
Para o Estadual de 1998, a disparidade entre a força do Vasco e os demais era tão aparente, que estes não tiveram escrúpulos em recorrer a manobras incríveis para tentar esvaziar a competição e deslustrar o inevitável título vascaíno. Recorreram até à molecagem de não comparecer a campo, sob o pretexto de estarem protestando contra algumas transferências de datas que o Vasco necessitava para evitar colisões com compromissos pelas Copas do Brasil e Libertadores. Naturalmente fingiam que se esqueciam que a confusão do calendário foi culpa deles próprios, que tinham exigido a compressão da tabela do estadual para que pudessem se dedicar exclusivamente ao Torneio Rio-São Paulo. Enfim, o fato é que, as vitórias por WO tornaram a tarefa do Vasco ainda mais fácil, e o clube tratou de conquistar com algumas rodadas de antecedência os títulos da Taça Guanabara e Taça Rio e, consequentemente, do Campeonato Estadual, sem precisar de uma final.
Na Copa do Brasil, o time acabou não conseguindo sua classificação para a final, caindo na semifinal para o Cruzeiro. Porem a atenção de todos voltava-se para a Copa Libertadores.
A final seria contra o Barcelona, de Guayaquil, em agosto, exatamente o mês em que as celebrações pelo centenário atingiam o clímax. A primeira partida foi um passeio em São Januário, e o placar de 2 a 0, com gols de Donizete e Luizão, saiu barato para os equatorianos. Mesmo assim, criou-se no Equador um clima de guerra para a segunda partida, e a torcida do Barcelona, até mesmo com uma certa dose de ingenuidade, acreditava que podia superar a vantagem vascaína. Mas na medida em que suas esperanças eram destruídas dentro do campo pelos craques vascaínos, que ao final do primeiro tempo já haviam marcado 2 a 0, novamente por intermédio de Luizão e Donizete, os frustrados equatorianos nas arquibancadas do belíssimo Estádio Monumental de Guayaquil passaram a agredir os torcedores vascaínos presentes. Porém, no final, prevaleceu a alegria dos vascaínos, pois com o resultado final de 2 a 1 podiam comemorar a inédita conquista da Copa Libertadores. Era mais um título sul-americano para o Vasco, numa repetição do que havia acontecido 50 anos antes em Santiago do Chile. Houve uma grande carreata na volta da delegação ao Rio, com milhares de vascaínos desfilando pela cidade, do aeroporto à Zona Sul e terminando em São Januário, a festejar o centenário, a conquista e seus heróis.
A caminho de Tóquio, o Vasco ainda fez uma escala nos EUA, para um compromisso contra o DC United valendo a Copa Inter-Americana, que anualmente reune os campeões das Copas Libertadores e da Concacaf. Na primeira partida, em Washington, o Vasco venceu por 1 a 0 e a segunda partida se realizaria durante a volta de Tóquio ao Rio. O resultado positivo serviu para aumentar mais a motivação para o confronto contra o Real Madrid. Os vascaínos tinham motivos para estarem confiantes, pois teriam 10 dias para treinar e se condicionar para o confronto, enquanto que o campeão europeu, que chegaria na antevéspera da partida, vinha cumprindo uma campanha de altos e baixos no campeonato espanhol, exibindo a cada jogo pontos vulneráveis na sua defesa. Lamentavelmente, quando a bola rolou, a equipe cruzmaltina não soube impor um estilo de jogo ofensivo, que explorasse as deficiências da zaga adversária, e concedeu a iniciativa da partida aos espanhois. Passou o primeiro tempo sendo sufocada pelo adversário e acabou tomando um gol contra numa cabeçada de extrema infelicidade do cabeça-de-área Nasa. A reação parecia estar a caminho no segundo tempo, quando o Vasco equilibrou a partida, alcançou o empate num gol de Juninho, e partiu para cima do Real Madrid. Esteve a ponto de marcar, porem acabou tomando o segundo gol num contra-ataque, e não teve mais tempo para se recuperar. A perda do título mundial abateu os jogadores e, quatro dias depois, um Vasco apático foi derrotado pelo DC United por 2 a 0 em Fort Lauderdale, consequentemente deixando de ganhar também a Copa Inter-Americana. Uma conclusão triste, que os vascaínos não mereciam, de um ano que até então havia lhes sido tão generoso em alegrias.

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