quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Camisas de 1997

Mesmo com Edmundo, o elenco ainda deixava a desejar. Após mais uma campanha medíocre no bagunçado campeonato estadual de 1997, a diretoria concluiu que a única chance de ser reeleita para o importante mandato do centenário do clube seria formar um time forte, capaz de ser um real candidato ao campeonato brasileiro. Consequentemente, as negociatas com empresários de jogadores foram substituídas, pelo menos temporariamente, por contratações responsáveis, ainda que por empréstimo, visando a preencher as posições carentes do time. Outra decisão acertada foi a de interromper o círculo vicioso das trocas sucessivas de técnicos e deixar que o trabalho do técnico pudesse usufruir de continuidade. Como não acontecia há mais de dez anos, finalmente o Vasco atravessaria alguns anos tendo um único técnico, Antônio Lopes.
O Vasco começou sua participação no campeonato brasileiro de 1997 com um elenco reformulado, mas mesmo assim não havia muita gente que lhe atribuísse o mais ligeiro favoritismo. Ainda mais que o clube também teria que disputar em paralelo a Supercopa dos Campeões Sul-Americanos, devido ao reconhecimento oficial, por parte da Confederação Sulamericana, do histórico título do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões de 1948. Mas os reforços que chegavam a São Januário vinham cair como uma luva na equipe, que ia sendo armada na surdina pelo técnico Antonio Lopes. Depois de anos, o Vasco voltava a ter uma equipe guerreira, com uma defesa sólida, um meio campo a um tempo combativo e criativo e um ataque temível.
Estas características não se formaram instantâneamente. No início da competição, faltava entrosamento e padrão de jogo à equipe, além de haver o problema da renovação de contrato do grande goleiro Carlos Germano e uma contusão de lenta recuperação de Juninho. Por isso o Vasco começou perdendo pontos nas duas primeiras partidas. Mas não tardou e a equipe começou a vencer e a subir na tabela de classificação. Vários jogadores se destacavam, a começar pelo goleiro Márcio, que de terceiro reserva passava a suprir brilhantemente o desfalque temporário de Carlos Germano. Odvan e Mauro Galvão se firmaram como parceiros ideais de zaga, onde a vitalidade e simplicidade do primeiro eram um complemento perfeito à experiência e classe do segundo. O lateral esquerdo Felipe, revelação dos juniores, demonstrava muita habilidade e eficiência no apoio. O meio-campo unia a tenacidade de Luisinho e Nasa na marcação à habilidade de Juninho e Ramon na criação de jogadas. No ataque, Evair cumpria com abnegação uma função tática à qual não estava acostumado, de recuar e abrir espaços. Mas o principal fator de desequilíbrio era mesmo Edmundo, que a cada partida parecia mais impossível de ser marcado.
Os adversários faziam de tudo para parar o genial artilheiro. Dentro de campo, eram as provocações para queimar o seu notório pavio curto; fora de campo, a imprensa não perdia uma oportunidade para alardear declarações polêmicas do jogador, ou lembrar, sem motivo, suas antigas rixas com Evair, que havia sido seu parceiro de ataque no Palmeiras. Numa noite de quarta-feira em São Januário, o Vasco goleou por 6 a 0 ao lanterna Uniao São Joao, com todos os gols marcados por Edmundo, que assim quebrou o recorde do campeonato brasileiro, de maior gols numa única partida, que era de Roberto Dinamite e Ronaldo, empatados, com cinco. Mais além, ele quebraria outro recorde, o de maior artilheiro em um campeonato brasileiro com 29 gols, superando a Reinaldo, que em 1978 havia marcado 28.
Os outros sete clubes classificados para a fase semifinal, o Vasco tinha derrotado a cinco na primeira fase - Internacional, Atletico-MG, Portuguesa, Flamengo e Palmeiras -, empatado com o Juventude e perdido apenas para o Santos. Foi nessa situação desesperadora que o Flamengo entrou em campo, com a obrigação de atacar a qualquer custo. O técnico Antônio Lopes então, tranquilamente, posicionou o time para explorar os contra-ataques, e no final não deu outra: Vasco 4 a 1, com três gols e nova atuação de gala de Edmundo, numa aparente repetição do resultado do ano anterior.

o Vasco chegava a final contra o Palmeiras, o vencedor do outro grupo, com a vantagem da igual diferença de gols, e foi o que aconteceu. A primeira partida, no Morumbi, e a segunda, no Maracanã, foram durissimas mas, com dois empates sem gols, o Vasco conquistou o seu terceiro título brasileiro, com todo o merecimento.

Chegava assim o Vasco ao ano do seu centenário laureado como campeão brasileiro, com uma oportunidade de tentar vencer a Copa Libertadores e sonhar com o Mundial de Clubes em Tóquio. Infelizmente, todavia, sem Edmundo, que deixava o Vasco rumo à Itália, para jogar pela Fiorentina.

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